Caô Cabecilê: Kao em Yourubá (Aquele que esta acima de todos, o Rei) Kaab (Descer, Baixar) Ilê (Terra, Chão) "Que o Rei de todos desça a Terra!"
Em uma livre interpretação seria algo como um pedido, para que ao descer a terra, o rei traga consigo paz, e justiça divina para todos!
Caô Cabecilê é também saudação de Xangô, Orixá que representa a Justiça! "Sentado na pedra de Xangô, eu fiz meu juramento até o fim, olha seus filhos que pedem meu Pai Justiça e Paz nesse congá!" Kaô Cabecile Xangô!
Eu tenho um problema: meu ascendente é em Ariés. E eu tenho outro problema: é que eu sou a menina que nasceu sem cor. Pra alguns eu sou "preta", para outras eu sou Preta, para muitos e muitos eu sou parda. Ainda que eu sempre tenha ouvido por aí que parda é cor de papel e a minha consciência racial quando me chamem de parda fique tão bamba quanto a auto-declaração de artista pop como Anitta quando pratica apropriação cultural. Eu sou a menina que nasceu sem cor porque eu nasci num país sem memoria, com amnésia, que apaga da historia todos os seus símbolos de resistência negra, que embranquece a sua população e trajetória a cada brecha, que faz da redenção de Can a sua obra prima, Monalisa da miscigenação. E ô ode ao milagre da miscigenação, calcado no estupro das minhas ancestrais, na posse de corpos que nasceram para serem livres, na violação de ventres que nunca deveriam ter deixado de serem nossos. E eu tenho outro problema... pô, eu não sei dar cambalhota e não importa que pra alguns eu seja a menina que nasceu sem cor, que falte melanina pra minha pele ser retinta, que os meus traços não sejam tão marcados. O colorismo é uma política de embranquecimento do Estado que por muito tempo fez com que eu odiasse os traços genéticos do meu pai herdados, me odiasse, me mutilasse, meu cabelo alisasse. Meninas pretas não brincam com bonecas pretas. Mas faço questão de botar no meu texto que pretas e pretos estão se armando, se amando. Porque me chamam por aí de parda, morena, moreninha, mestiça, mulata, café com leite, marrom bombom... Por muito tempo eu fui a menina que nasceu sem cor, mas um dia gritaram-me: NEGRA. E eu respondi.