"eu retribuo a dádiva do amor,
ainda que eu não saiba como expressa-la."

quarta-feira, 28 de março de 2018

Codinome Beija-Flor - Cazuza


Pra que mentir
Fingir que perdoou
Tentar ficar amigos sem rancor
A emoção acabou
Que coincidência é o amor
A nossa música nunca mais tocou

Pra que usar de tanta educação
Pra destilar terceiras intenções
Desperdiçando o meu mel
Devagarzinho, flor em flor
Entre os meus inimigos, beija-flor

Eu protegi o teu nome por amor
Em um codinome, Beija-flor
Não responda nunca, meu amor
Pra qualquer um na rua, Beija-flor

Que só eu que podia
Dentro da tua orelha fria
Dizer segredos de liquidificador

Você sonhava acordada
Um jeito de não sentir dor
Prendia o choro e aguava o bom do amor
Prendia o choro e aguava o bom do amor





Cazuza
Exagerado - 1985

quinta-feira, 8 de março de 2018

Esquece e vai Sorrir - Ludov


Deixa eu te provar
Uma lágrima
Pode derramar da memória
E trazer consigo as dores
De quem teve amores como eu
E não foi capaz de compreender
O que aconteceu


Vai passar 
E você nem vai lembrar 
Vai passar, tudo passa 
Vai passar 
Pense em mim quando acabar 
Vai passar, tudo passa 


Vai passar 
E enfim, pra terminar 
Vai sorrir e achar graça 
Vai sorrir 
E achar graça.





Ludov, O Exercício das Pequenas Coisas - 2004

domingo, 4 de março de 2018

De Graça - Marcelo Jeneci


Nascido em abril de 1982, na Cohab Juscelino, em Guaianases, Zona Leste de São Paulo, Jeneci foi criado pela mãe paulista e pelo pai pernambucano, apaixonado por Roberto Carlos e instrumentos musicais. Cresceu embalado pelas estações de rádio populares e trilhas sonoras de novela. Aprendeu música por meio de seu pai, que trabalhava consertando equipamentos eletrônicos e instrumentos musicais. Começou tocando sanfona na banda de Chico César. Como compositor, fez músicas com Vanessa da Mata ("Amado"), José Miguel Wisnik e Paulo Neves ("Tempestade Emocional"), Luiz Tatit ("Por Que Nós?") e Arnaldo Antunes ("Quarto de Dormir"). Teve sua música "Longe" gravada por Arnaldo Antunes e Leonardo. Zélia Duncan também contou com suas músicas em seu último disco, em que Jeneci participou tocando piano, acordeon e guitarra.

Pela Som Livre lançou seu primeiro disco no final de 2010, Feito para Acabar, um dos melhores discos de 2010, segundo veículos como a revista Rolling Stone. Neste disco, se destacam "Felicidade" (parceria com Chico César), "Feito para acabar", entre outras.

A voz feminina que pontua todo disco de Marcelo Jeneci é da cantora paulistana Laura Lavieri. A estudante de psicologia, canto e violoncelo conheceu Jeneci através do pai, Rodrigo Rodrigues, que integrava o trio Música Ligeira ao lado de Mário Manga e Fábio Tagliaferri. Em 2007, Laura e Jeneci se tornaram parceiros musicais, em um momento em que ele, após anos de dedicação aos instrumentos, se descobria como compositor e ela, como cantor

Em seu primeiro disco, Feito Pra Acabar (2010), Marcelo Jeneci se apresentou para o público com as canções “Pra sonhar” e “Felicidade”. De Graça (2013), segundo álbum do cantor, mostra um novo Jeneci, amadurecido, depois de passar por momentos marcantes na vida pessoal e profissional. Produzido por Kassin, coproduzido por Adriano Cintra e com arranjos de orquestra de Eumir Deudato, o disco promete aproximar ainda mais o público do músico. São 13 faixas que mostram a mudança na forma de fazer música de Jeneci, sem perder a referência e a fórmula de sucesso do primeiro disco. Dentre elas, podemos destacar a faixa-título do disco, “De graça”, que foi o primeiro single deste trabalho lançado na internet e já é sucesso. As músicas compostas em parceria com Arnaldo Antunes, “Alento” e “Tudo bem, tanto faz”, também dão um toque especial ao disco.

Em 2014, seu álbum De Graça foi indicado ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira.


sábado, 3 de março de 2018

Esboço

"Foi quando vi que ser feliz
era não querer te ter pra sempre,
mas sim te ter naquele instante,
que já era eterno o suficiente!

E por saber que ela nunca ficaria, 
deixei que fosse embora. 
Mas desta vez, sem falsas esperanças 
de que um dia ela voltaria. 
Pois eu sei, que dessa vez 
não tem mais volta!"



Obs: A Primeira parte desse esboço de poema, é composto por uma estrofe da música A Onda, quarta faixa do disco Alegria Girar, lançado em 2009 pela banda Validuaté

Nascida em Teresina no ano de 2004, e com a proposta de experimentação rítmica sobre o rock e outros ritmos, a banda apresenta sua própria mistura de elementos da música brasileira e mundial. Já dividiu palco com grandes nomes da música brasileira como Caetano Veloso, João Bosco, Bossacucanova, Fernanda Porto, Cachorro Grande, Nação Zumbi, Vanessa da Mata, Maria Gadu, Nando Reis, Paralamas do Sucesso. A discografia da banda Validuaté conta com dois álbuns de estudio, Pelos Pátios Partidos em Festa (2008) e Alegria Girar (2009) e o Cd e DVD Validuaté Ao Vivo (2015).

quinta-feira, 1 de março de 2018

Para os que Virão - Thiago de Mello


Como sei pouco, e sou pouco,
faço o pouco que me cabe
me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver
o homem que quero ser.

Já sofri o suficiente
para não enganar a ninguém:
principalmente aos que sofrem
na própria vida, a garra
da opressão, e nem sabem.

Não tenho o sol escondido
no meu bolso de palavras.
Sou simplesmente um homem
para quem já a primeira
e desolada pessoa
do singular – foi deixando,
devagar, sofridamente
de ser, para transformar-se
— muito mais sofridamente —
na primeira e profunda pessoa
do plural.

Não importa que doa: é tempo
de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar.

É tempo sobretudo
de deixar de ser apenas
a solitária vanguarda
de nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro.
(Dura no peito, arde a límpida
verdade dos nossos erros)
Se trata de abrir o rumo.

Os que virão, serão povo,
e saber serão, lutando.

(Thiago de Mello)

Carolina Maria de Jesus

Eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres, somos os trastes velhos. A metáfora é forte e só poderia ser construída dessa forma, em primeira pessoa, por alguém que viveu essa condição. Relatos como este foram descobertos no final da década de 1950 nos diários da escritora Carolina Maria de Jesus (1914- 1977). Moradora da favela do Canindé, zona norte de São Paulo, ela trabalhava como catadora e registrava o cotidiano da comunidade em cadernos que encontrava no lixo. Ela é considerada uma das primeiras e mais importantes escritoras negras do Brasil. 




“A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago.”– Carolina Maria de Jesus, em “Quarto de Despejo” 1960.


Nascida em Sacramento (MG), Carolina mudou-se para a capital paulista em 1947, momento em que surgiam as primeiras favelas na cidade. Apesar do pouco estudo, tendo cursado apenas as séries iniciais do primário, ela reunia em casa mais de 20 cadernos com testemunhos sobre o cotidiano da favela, um dos quais deu origem ao livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, publicado em 1960. Após o lançamento, seguiram-se três edições, com um total de 100 mil exemplares vendidos, tradução para 13 idiomas e vendas em mais de 40 países.

É um documento sobre o que um sociólogo poderia fazer estudos profundos, interpretar, mas não teria condição de ir ao cerne do problema e ela teve, porque vivia a questão, avalia Audálio Dantas, jornalista que descobriu a escritora em 1958. O encontro ocorreu quando o jornalista estava na comunidade para fazer uma reportagem sobre a favela do Canindé. “Pode-se dizer que essa foi a primeira favela que se aproximou do centro da cidade e isso constituía o fato novo”, relembrou. Ele conta que Carolina vivia procurando alguém para mostrar o seu trabalho. 

Uma mulher briguenta que ameaçava os vizinhos com a promessa de registrar as discórdias em um livro. É assim que Audálio recorda Carolina nos primeiros encontros. “Qualquer coisa ela dizia: Estou escrevendo um livro e vou colocar vocês lá. Isso lhe dava autoridade”, relatou. Ao ser convidado por ela para conhecer os cadernos, o jornalista se deparou com descrições de um cotidiano que ele não conseguiria reportar em sua escrita. “Achei que devia parar com a minha pesquisa, porque tinha quem contasse melhor do que eu. Ela tinha uma força, dava pra perceber na leitura de dez linhas, uma força descritiva, um talento incomum”, declarou. 

Apesar de os cadernos conterem contos, poesias e romances, Audálio se deteve apenas em um diário, iniciado em 1955. Parte do material foi publicado em 1958, primeiramente, em uma edição do grupo Folha de S.Paulo e, no ano seguinte, na revista “O Cruzeiro”, inclusive com versão em espanhol. “Houve grande repercussão. A ideia do livro coincidiu com o interesse da Editora Francisco Alves”, relatou. O material, editado por Audálio, não precisou de correção. “Selecionei os trechos mais significativos. O texto foi mantido na sintaxe dela, na ortografia dela, tudo original”, apontou. 

A escritora brasileira Carolina Maria de Jesus é autora de "Quarto de Despejo" relatou. O material, editado por Audálio, não precisou de correção. “Selecionei os trechos mais significativos. O texto foi mantido na sintaxe dela, na ortografia dela, tudo original”, apontou. 

Entre descrições comuns do cotidiano, como acordar, buscar água, fazer o café, Audálio encontrou narrativas fortes que desvendavam a vida de uma mulher negra da periferia. Ela conta que tinha um lixão perto da favela, onde ela ia catar coisas. Lá, ela soube que um menino, chamado Dinho, tinha encontrado um pedaço de carne estragada, comeu e morreu. Ela conta essa história sem comentário, praticamente. Isso tem uma força extraordinária, exemplificou. 

Para Carolina, a vida tinha cores, mas, normalmente, essa não é uma referência positiva. A fome, por exemplo, é amarela. Em um trecho do primeiro livro, a autora discorre sobre o momento em que passa fome. Que efeito surpreendente faz a comida no nosso organismo! Eu que antes de comer via o céu, as árvores, as aves, tudo amarelo, depois que comi, tudo normalizou-se aos meus olhos. Para Audálio, o depoimento ganha ainda mais importância por ser real. Um escritor pode ficcionar isso, mas ela estava sentido, disse. 

Audálio relata que Carolina tinha muita confiança no próprio talento e já se considerava uma escritora, mesmo antes da publicação. “Quando o livro saiu, a alegria dela foi muito grande, mas era uma coisa esperada”, relatou. O sucesso da primeira publicação, no entanto, não se repetiu nos outros títulos. Após o sucesso de “Quarto de Despejo”, a Editora Francisco Alves encomendou mais uma obra, a partir dos diários escritos por ela quando já morava no bairro Alto de Santana, região de classe média. Surgiu então o “Casa de Alvenaria” (1961) que, segundo o jornalista Audálio Dantas, responsável pela edição do material, vendeu apenas 10 mil exemplares. 

Audálio lembra que Carolina se considerava uma artista e tinha pretensões de enveredar por diferentes ramos artísticos. Um deles foi a música. Em 1961, ela lançou um disco com o mesmo título de seu primeiro livro. A escritora interpreta 12 canções de sua autoria, entre elas, O Pobre e o Rico”. Rico faz guerra, pobre não sabe por que. Pobre vai na guerra, tem que morrer. Pobre só pensa no arroz e no feijão. Pobre não envolve nos negócios da nação, diz um trecho da canção. 

Para o jornalista, a escritora foi consumida como um produto que despertava curiosidade, especialmente da classe média. Costumo dizer que ela foi um objeto de consumo. Uma negra, favelada, semianalfabeta e que muita gente achava que era impossível que alguém daquela condição escrevesse aquele livro, avaliou. Essa desconfiança, segundo Audálio, fez com que muitos críticos considerassem a obra uma fraude, cujo texto teria sido escrito por ele. A discussão era que ela não era capaz ou, se escreveu, aquilo não era literatura, recordou. 

Carolina de Jesus publicou ainda o romance Pedaços de Fome e o livro “Provérbios”, ambos em 1963. De acordo com Audálio, todos esses títulos foram custeados por ela e não tiveram vendas significativas. Após a morte da escritora, em 1977, foram publicados o Diário de Bitita, com recordações da infância e da juventude; Um Brasil para Brasileiros (1982); Meu Estranho Diário; e Antologia Pessoal (1996).