"eu retribuo a dádiva do amor,
ainda que eu não saiba como expressa-la."

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Fragmento: Reinações de Narizinho


Afinal as duas velhas apareceram – Dona Benta no vestido de gorgorão, e Nastácia num que Dona Benta lhe havia emprestado. Narizinho achou conveniente fazer a apresentação de ambas por haver ali muita gente que as desconhecia. Trepou em uma cadeira e disse:
- Respeitável público, tenho a honra de apresentar vovó, Dona Benta de Oliveira, sobrinha do famoso Cônego Agapito Encerrabodes de Oliveira, que já morreu. Também apresento a Princesa Anastácia. Não reparem por ser preta. É preta só por fora, e não de nascença. Foi uma fada que um dia a pretejou, condenando-a a ficar assim até que encontre um certo anel
na barriga de um certo peixe. Então o encanto se quebrará e ela virará uma linda princesa loura.


(REINAÇÕES DE NARIZINHO - LOBATO, 1959, p. 234)

domingo, 15 de julho de 2018

Documentário "Nietzsche e o Sofrimento" — com Alain de Botton.


"A todos com quem realmente me importo, desejo sofrimento, desolação, doença, maus-tratos, indignidades, o profundo desprezo por si, a tortura da falta de auto-confiança, e a desgraça dos derrotados".


— Carta de Friedrich Wilhelm Nietzsche direcionada à Jacob Burckhardt - Sils Maria, outono de 1888.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

A Tempestade - Ato IV, Cena I (William Shakespeare)



Próspero - Tal como o grosseiro substrato desta vista, as torres que se elevam para as nuvens, os palácios altivos, as igrejas majestosas, o próprio globo imenso, com tudo o que contém, hão de sumir-se, como se deu com essa visão tênue, sem deixarem vestígio. Nós somos feitos da matéria de que são feitos os sonhos; nossa vida pequenina é cercada pelo sono.




A Tempestade - Ato IV, Cena I (1623),William Shakespeare.



Ficou interessado? Leia a peça inteira: A Tempestade (1623) - William Shakespeare

domingo, 1 de julho de 2018

OS ESTATUTOS DO HOMEM (Ato Institucional Permanente) a Carlos Heitor Cony

Dedicado a Carlos Heitor Cony, Tiago de Melo escreve, em 1964, “Os Estatutos do Homem”. Assim, em meio à turbulência de um país marcado pela mácula dos Atos Institucionais que cerceavam a liberdade, suprimindo Direitos, eis que a poesia nos empresta as sua asas, na mais ampla libertação.



Artigo V


Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

[...]


Artigo XIII


Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.


Artigo Final


Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.


Tiago de Melo
Santiago do Chile, abril de 1964.

Leia o Poema completo em: CONTI outra
Link para Download do Poema em PDF: ESTATUTO DO HOMEM (Ato Institucional Permanente)