"eu retribuo a dádiva do amor,
ainda que eu não saiba como expressa-la."

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Grace - Jeff Buckley


Antes de integrar o obscuro Gods and Monsters, Buckley tocou em outras bandas de jazz, rock e punk. Não chegou a gravar com o Gods e partiu para carreira-solo quando o grupo estava prestes a assinar contrato com uma gravadora. No entanto, Buckley só teve a oportunidade de lançar um solitário álbum-solo de estúdio em vida, o mitológico Grace (1994), que não foi bem-sucedido comercialmente. Viveu o dilema de não ser comercial o suficiente para tocar nas FMs nem pesado para supostamente cair no gosto do público indie. Houve quem o classificasse de ´celestial´ demais, mas o tempo fez clássicas suas interpretações para canções etéreas como Corpus Christi Carol, Lilac Wine e a insuperável versão de Hallelujah (Leonard Cohen), depois popularizada pela (também boa) gravação de Rufus Wainwright na trilha da animação Shrek. Não por acaso ambos mantêm certas semelhanças com a melancolia outonal de Nick Drake (1948-1974), que morreu de overdose. Não é à toa que Grace ganhou o atributo de único não pela condição isolada na carreira de Buckley, mas por representar uma ´gota cristalina num mar de ruído´, como disse Bono, do U2. Virou objeto de culto e também bateu fundo na sensibilidade de outros astros como Bob Dylan, Paul McCartney, Jimmy Page e o próprio Wainwright. É um dos grandes discos da década passada e ficou entre os 500 melhores de todos os tempos na lista da revista Rolling Stone. Nos três anos e meio que se seguiram, Buckley compôs várias canções que não foram finalizadas como ele queria. Chamou Tom Verlaine, do Television, para produzir o sucessor de Grace, mas não gostou do resultado. Só que não teve tempo de retrabalhar as canções, que estão num de seus álbuns póstumos Sketches for ´My Sweetheart the Drunk´ (1998). Apesar do material inacabado, ainda assim é uma boa amostra do que poderia ser. O brilho de sua música acabou ofuscado pela morte trágica, por afogamento, na marina do Rio Wolf, em Memphis (Tennessee), no dia 29 de maio de 1997. Criou-se em torno disso uma aura de ´mistério´ desmentida veementemente por sua mãe, Mary Guibert. A morte foi acidental (ele estava nadando), não teve nada que ver com drogas, álcool, suicídio ou qualquer outro combustível para um escândalo cinematográfico. Jeff conviveu pouco com seu pai, apenas por uma semana. E esse tempo foi suficiente para mexer com sua cabeça. Tim abandonou Mary logo depois que ela deu à luz e, com um histórico de infância conturbada, o filho relutou muito em cantar, por medo de comparação com o pai. Por uma daquelas incríveis coincidências, Tim também gravou pouco e virou lenda. Morreu de overdose em 1975 aos 28 anos. Quando se afogou, Jeff tinha 30.

Fonte: Texto Original

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